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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

As delícias da linguagem

Eu amo ter a capacidade de lidar com diferentes tipos de linguagem. Não foi à toa que escolhi como cursos: primeiro Licenciatura em Letras Língua e Literatura Portuguesa, e depois Comunicação Social. Comunico-me através de todos os meu poros. Caretas, gestos, gritos, sussurros, rodopios, são várias as formas de comunicação. Mesmo sendo difícil fazer os outros entenderem o que você quer dizer, ou mesmo, você mesmo formular o que pretende dizer, é ótimo desenvolver os diferentes tipos de linguagem, e o homem dentre os animais é o senhor na arte de comunicar.
Os estudos da linguagem começaram por motivos religiosos, a partir do século IV a.C., com os hindus, que falavam o sânscrito. Os teóricos da linguagem conceituam linguagem como expressão de emoções, idéias, propósitos, influenciada pelo contexto social, histórico e cultural. Diferente da língua que pode ser normatizada e unificada para que seja apreendida de forma mais uniforme por seus falantes.
Ou seja, quando se fala de linguagem não nos limitamos apenas a palavras, a uma determinada língua, mais a um universo de possibilidades de expressão, e em razão disso, para ser um bom comunicador é necessário estar atento aos chamados "ruídos" na comunicação. Que são esses ruídos? Tudo aquilo que impede que a mensagem seja transmitida de uma pessoa/e ou pessoas para outras, ou mesmo seja interpretada com sentido diverso daquele que originalmente o emissor desejou transmitir.
Os poetas e artistas são os que mais liberdade tem de assumir os riscos de interpretações diversas, para eles o que importa é a arte de brincar com as formas de expressão, de linguagem. Para o poeta o que importa é descobrir um jogo inusitado de palavras, que instigue as pessoas a usar a imaginação, desvendar seus próprios segredos, e para isso, trabalham ardilosamente com o mistério por trás de pensamentos, ou de estruturas aparentemente rígidas de linguagem, não há certo ou errado, há apenas a busca incessante do que nem se sabe que se procura.
Para exemplificar essa arte de brincar com a linguagem, transcrevo aqui uma das composições de Gilberto Gil, Metáfora:

Uma lata existe para conter algo,
Mas quando o poeta diz lata
Pode estar querendo dizer o incontível

Um meta existe para ser alvo,
Mas quando o poeta diz meta
Pode estar querendo dizer o intangível

Por isso não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo-nada cabe,
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha a caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não disputa,
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora

GIL, Gilberto. "Metáfora". In: Gil, Gilberto. Um Banda Um. São Paulo: WB Records, 1982.


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