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segunda-feira, 20 de março de 2017

Redenção


Eu tenho muito medo. 


Tenho deixado meu algozes estraçalharem minha carne. 


Curioso é que não consigo ter raiva, nem fugir aos seus ataques. Eu amo os meus algozes. Eu preciso afastá-los, mas não me movo. Estou paralizada pela dor que criei. Estou presa na ficção que eu criei.

Eu estou farta de mentir para mim. 


Não quero mais lamber a baba de Caim.

Eu amo meus algozes, mas quem está precisando de mim sou eu agora.

Eu preciso dançar em cima das chamas.
Giro em meus pensamentos
E nenhum deles me salva.

Vou esvaziar-me deles para me salvar.
Meu canto sobe aos céus,
O rodopiar dos sons 
Afasta as chamas.

Clamo Meu Libertador
E seu sangue aplaca as minhas feridas abertas.
Nossos sangues se misturam
 E eu sinto em meu flanco a dor se aplacar.
Meu corpo pende ao chão e intacto
Toca as cinzas frias.
Não há mais dor.
Eu sou todo abrigo.

Em silêncio suspiro a Eternidade.

(Millena Cardoso de Brito)