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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

As aventuras do livro-reportagem..

Parafraseando o título do livro "A aventura da reportagem", de Ricardo Kotscho e Gilberto Dimenstein, baseada em meus conhecimentos de acadêmica de Comunicação Social e pela minha própria experiência de fazer um livro-reportagem, (aguardem leitores! haverá uma postagem exclusiva sobre o livro-reportagem que escrevi) ouso escrever sobre livro-reportagem.

O livro-reportagem é um ótimo caminho para os jornalistas que desejam sair da mesmice da rotina das redações de jornal impresso, televisão, ou rádio, onde o tempo não é suficiente para aprofundar assuntos importantes a serem discutidos pela sociedade.

O tempo de apuração de informações de um livro-reportagem é bem maior do que dos outros meios de comunicação. Checar se os entrevistados realmente relataram o fato como esse aconteceu, confrontar versões diferentes de um fato, buscar fontes seguras para aproximar-se ao máximo de narrar fatos verídicos, são ações difíceis de serem realizadas com eficiência pelos jornalistas de "batente", aqueles que tem suas notícias comprometidas  pela correria das redações de jornal para publicação de uma quantidade máxima de matérias em um tempo que muitas vezes precisa ser "recorde". Vamos ser sinceros para certos assuntos, horas, muitas vezes, semanas, não são suficientes para elaborar uma matéria redonda, ou seja, uma matéria capaz de esclarecer a maior parte das dúvidas das pessoas interessadas em informação de qualidade.

Um mito que ronda a atividade jornalística da maioria dos profissionais brasileiros, cujo modelo de jornalismo foi herdado dos norte-americanos, é o da objetividade. Que ser humano com tal domínio de si, seria capaz de não deixar escapar suas crenças em seus textos, ou que jornalista seria capaz de escrever em um veículo de comunicação liberto de todas as pressões econômicas, políticas e sociais.

O objeto das matérias jornalísticas não são eventos que possam ser cristalizados ou recontados, eles serão escritos por seres humanos, e as fontes que os jornalistas recorrem, a maioria delas, também são humanas. Em consequencia disso, como tudo que é realizado por mãos e mentes humanas, as matérias jornalísticas também estão sujeitas a falhas, distorções. Apenas relatar fatos, e tentar esconder o olhar crítico dos olhos de um profissional de jornalismo, que foi preparado para interpretar acontecimentos para transformá-los em notícia, reduz a eficácia desses profissionais como agentes transformadores da realidade social.

Os jornalistas sobre o pretexto da objetividade são enclausurados em um modelo de jornalismo, que não dá espaço ao confronto de idéias, que é tão produtivo para chegar a soluções em questões de difícil solução. A objetividade não deve ser escudo, mas um ideal que os jornalistas devem procurar para chegaram ao máximo próximo da tão "sonhada verdade dos fatos", mas do que isso transformar a profissão em um instrumento para as pessoas adquirirem conhecimento suficiente para decidirem como agir diante da dinâmica das relações sociais que norteiam a publicação de informações nos meios de comunicação.

Utilizar o veículo de comunicação livro para desenvolver uma reportagem tornou-se uma alternativa para muitos jornalistas fugirem das amarras que os meios de comunicação impõem ao seu trabalho. De acordo com o jornalista Eduardo Belo, no seu livro "Livro-reportagem", "para a reportagem ganhar status de livro-o livro ganhar status de reportagem - são necessárias algumas condições, como o caráter não perecível ou maior durabilidade do assunto".

Eduardo Belo refere-se às características que diferenciam o livro-reportagem dos outros veículos de comunicação. Dentre elas, diferente do jornalismo realizado nos meios de comunicação de massa, que procuram as chamadas "notícias quentes", que atraem a atenção apenas por curto espaço de tempo; a produção jornalística em livro busca abordar assuntos de relevância para a sociedade, e que possam ser refletidos em diferentes contextos e épocas.

O Livro-reportagem surgiu a partir da necessidade dos profissionais de jornalismo fugirem das amarras da produção jornalística nos meios de comunicação de massa, como televisão e rádio, influenciada por exemplo pelas pressões do tempo, que impunha a eles duras limitações as possibilidades de desenvolvimento de suas potencialidades técnicas e criativas.

A Literatura é capaz de aprofundar uma variedade de temas através de uma linguagem criativa que recria a realidade e possibilita despertar emoções e questionamentos reveladores da consciência humana. O jornalismo tem como princípio básico o compromisso de buscar relatar os fatos da forma como acontecem na realidade. Essas duas áreas do conhecimento, Literatura e Jornalismo, são ingredientes que compõem o livro-reportagem.

O Livro-reportagem utiliza elementos narrativos da Literatura, mas obedecendo as técnicas jornalísticas, como, por exemplo, a apuração dos fatos para evitar distorções da realidade. Essa é uma forma diferente de fazer jornalismo e possibilita atrair o interesse dos leitores para assuntos importantes, através da utilização da linguagem literária.

O conceito de livro-reportagem só começou a ganhar destaque na segunda metade do século XX. Antes disso, as áreas da literatura e do jornalismo já vinham relacionando-se durante muito tempo, a maioria dos primeiros escritores a trabalhar na área do jornalismo eram intelectuais que participavam da produção literária de seus países. Além disso, era comum nos jornais diários existir um espaço destinado a esse tipo de publicação.

Os livros "Hiroshima" (19460, de John Jersey, e "A sangue frio", de Truman Capote foram pioneiros na produção de livro-reportagem, e despontaram no mercado jornalístico pelo emprego de recursos literários para abordar assuntos polêmicos. "Hiroshima" descreve os estragos provocados pela queda da bomba atômica na cidade japonesa de Hiroshima a partir do ponto de vista de seis pessoas sobreviventes. "A sangue frio" aborda o assassinato de uma família na zona rural do Kansas, nos Estados Unidos.

Nas palavras do jornalista Edvaldo Pereira Lima (1993), a reportagem em formato de livro é importante pela sua capacidade de " avançar fronteiras do jornalismo para além dos limites convencionais que ele próprio se impõem".

Além disso, eu ouso dizer mais que abordar um assunto relevante de forma mais apurada, com maior tempo para apuração dos fatos, tendo contato direto com as pessoas que fazem parte da reportagem que se pretende relatar no formato de livro, proporciona a humanização da atividade jornalística. Uma vez que, o jornalista convive de perto por um tempo maior com os envolvidos na reportagem, e isso além de aprofundar um tema, vai além, proporciona que o profissional seja capaz de transmitir sem a frieza de palavras ditas de forma corriqueira a realidade do que acontece na sociedade, expresse o lado humano, as emoções, e instigue os leitores a refletirem e agirem em prol de seus direitos e deveres como cidadãos.

Imagem retirada deste endereço eletrônico

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