Translate

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Encontro


Eu tentei adiar este dia o mais que eu pude. Fugir do incômodo de sentir o sol arder em meus olhos ao acordar de uma noite de sono tranquila.

A noite muitas vezes esconde o que deveríamos saber, mas há quem prefira as sombras à luz. Somos sombras e luz.

Foge aos nossos olhos a verdade e isso muitas vezes nos faz escurecer. Às vezes, escolhemos nos ocultar nas sombras para não nos desgastarmos ao sol ou talvez por medo de sermos consumidos por algo que supera o nosso entendimento. Mas, há os que escolham as sombras e não posso responder por eles.

Trituro no peito as minhas muitas faces e apesar de buscarem ser uma, não sei como sintetizar os elementos que me compõe. Fogo, água, terra, ar, nenhum deles me resume. Sofro de encantamento crônico. Tudo é de causar admiração e tudo deve ser bom, se não for, tem que ser. Teimosia de pensar que há espaço para coisas que não podem ocupar o mesmo espaço. As leis da física me irritam, gostaria de mudá-las, mas esse pensamento é infantil, assim como, é a forma como desejaria que o mundo fosse.

Fugi da realidade, talvez, por ela ser diferente do mundo que eu construí. Eu deixei que a vida passasse lá fora. Os meus amigos de infância eu deixei brincarem sem mim, mesmo quando eu podia estar com eles; eu deixei meus aspirantes a namorados de adolescência, encontrarem outras garotas;  pois eu não queria saber o que era viver. Eu sentia como se a vida não fosse para mim. Eu me suicidei todos os dias. Tomei o veneno, sem sentir o gosto da morte, um veneno fraco que só estava me matando aos poucos, pois eu sentia um prazer masoquista de me fazer sofrer como se eu merecesse isso.

Esses foram meus dias de sombra. Eu me escondi da vida, como se ela fosse uma doença contagiosa. Uma doença sem cura que eu precisava aprender a conviver.

Mas, enfim, fui apresentada a vida por meio de passos de dança. Letras, sons, giros, movimentos tomaram conta do meu corpo e foram me levando ao seu encontro. A vida se fez necessária, se impôs com força aos meus sentidos despertos.

A vida me tirou para dançar e nós vamos girando pelo tempo até o fim da nossa canção.


Como posso parar de girar se a minha música não acabou?

Nenhum comentário: