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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

A galinha

Crédito: Imagem retirada da Internet

A minha visão em relação ao tempo mudou no simples ato de ver um galinha sendo cortada. As mãos enrugadas da minha avó cortavam com agilidade a pele macia e ainda quente do animal morto há pouco tempo. Minha mãe e eu a observávamos. Poucos segundos antes, minha mãe era quem executava a tarefa, enquanto, eu e minha avó apenas a observávamos. Eu sempre admirei a autoconfiança com que minha mãe usava a faca na cozinha. Diante dos frangos congelados as suas mãos pareciam certeiras. Mas, naquele momento à beira da pia no vasto quintal da casa minha vó
, ela como filha perdeu a firmeza nas mãos. Eu não sei se por causa do cheiro quente das vísceras que pareciam mais assustadores do que as frias entranhas das galinhas que ela costumava cortar ou se por causa de estar sendo observada pela sua experiente mãe. O fato é que ela tomava o lugar de filha e não de minha mãe e isso me divertiu. Minha vó ao vê-la trêmula diante da galinha tomou-lhe das mãos a faca e passou ela mesma a executar a ação. "– Você está cortando errado, cuidado com o papo!" ,"– Pera mãe, eu sei!"Eu me via na minha mãe e me invadia um certo sentimento de desforra das broncas que já tinha levado por não fazer as tarefas domésticas do jeito que ela achava melhor em nossa casa. Eu conclui que a relação de mãe e filho ou filha estava contida naquela cena. Pareceu que diante de mim o tempo se retraía e se expandia no simples cortar de uma galinha. Obrigada por esse momento adorável animal. Eu espero que haja um céu onde nós possamos nos encontrar para eu te falar sobre esse dia.

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