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domingo, 14 de setembro de 2014

Amor aprisionado

Esta poesia escrevi em 2006. Eu tinha uns 18 anos e estava em uma fase de transição para vida adulta. A maioria das garotas da minha idade já tinha tido algum tipo de relacionamento amoroso, mas eu nenhum, nem nada que chegasse perto disso. "Ficas", ou seja, parceiros momentâneos, namoros, não fizeram parte dessa fase da minha vida.
Eu ia para festas, dançava, e algumas vezes até bebia algo alcoólico, e tive até meus momentos de rebeldia adolescente, porém nunca me senti confortável para participar da prática moderna de beijar a boca de um desconhecido, sem saber nem o nome dele. Eu preciso saber quem é o outro, conversar, prescrutar os sinais que o corpo dele me dizem, passar dias convivendo com um alguém que me desperte um sentimento, e não apenas uma atração física. Sempre pensei assim. Acho que esse meu desejo tem um pouco do romantismo das donzelas dos contos de fadas, aprisionadas na torre dos seus pensamentos e vontades.
A realidade é bem diferente dos contos de fadas. Eu vi e ouvi tantas mulheres e pessoas reclamarem de sofrerem tanto por amor, que eu passei a fugir de manter relações de apego com coisas e pessoas. Sempre tive medo de magoar-me afetivamente.Por isso, o isolamento, muitas vezes, tornou-se meu refúgio contra as desilusões.
Hoje, com 26 anos, eu sinto que errei na dose de superproteção ao meu coração, que mesmo com todas as precauções foi ferido várias vezes. Amei e não arrisquei ser dispensada. Amei e não fui amada. Amaram-me, mas não consegui corresponder. Fui covarde no amor, porém nunca enganei a mim, nem aos outros sobre o penso sentir.
Nunca desejei ter um relacionamento, apenas para não ficar sozinha, mas sim para concretizar a fantasia de viver uma história de amor de verdade. Eu sei que fugir de envolver-me emocionalmente com as pessoas não vai ajudar-me a encontrar o amor que anseio. Percebi que é preciso ter a coragem de entregar o que você tem de mais precioso dentro de si. Não ter medo de amar e ser amada, não ter medo do sofrimento, da desilusão, pois as tristezas devem ser refletidas, pensadas, vividas,saboreadas para que estejamos prontos para a verdadeira felicidade. Percebi não posso desistir de mim, nem do que acredito. O amor aprisionado durante tantos anos dentro de mim, precisa ganhar forma, expandir-se, romper as barreiras que persistem em proibi-lo de ir aonde e/ou onde é necessário ir. O poema que escrevi, na adolescência, mostra a angústia de um amor aprisionado:

Estio

Semente plantada em um chão de ilusão,
dando frutos mortos.
Coração medrando a qualquer toque,
por medo de ninguém ser alguém
por quem a dor desate,
as lágrimas guardadas
por alguma desilusão.
As marcas de alguma
mágoa sem perdão.
Na aridez dos sentimentos,
nas madrugadas vazias,
sem calor no frio,
o meu coração seca.

(Millena Cardoso de Brito)

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