Não tenho a mínima ideia de
quem inventou o dia do solteiro, mas pensei que seria legal compartilhar com
meus leitores a minha visão sobre ser ou estar solteiro. Desde meu nascimento,
que foi em 29 de agosto de 1988, até o dia de hoje, 15 de agosto de 2014, estou
absolutamente solteira. Então, eu tenho conhecimento pleno sobre a "solteirice".
Eu lembro que, na minha infância, chorava de raiva quando algum coleguinha
falava brincando que eu estava namorando, apenas porque estava brincando perto de
algum garoto.
Naquela época, lembro, também, que os meninos e meninas gostavam de
brincar de “pêra, uva, maça, salada mista”. Essa brincadeira era assim: uma
pessoa era escolhida para ficar com os olhos fechados, enquanto as outras
crianças misturavam-se, para que a pessoa de olhos fechados não soubesse
localizá-las. Então, a pessoa que conduzia a brincadeira apontava para o grupo
de crianças presentes, e perguntava para quem estava de olhos fechados qual das
crianças apontadas ela escolhia, e qual das frutas também, sendo que pêra
significava que a criança daria um aperto de mão na outra, uva daria um abraço,
maçã daria beijo no rosto, e salada mista daria um beijo sem língua na boca.
Era a maior festa entre a criançada, mas eu não gostava nada daquela
brincadeira, e sempre que era indicada como alvo da tal salada mista, eu colocava
a minha mão na boca, e o máximo que os meninos e meninas conseguiam era beijar
minha mão.
Um dos episódios da minha vida que até certo tempo me trazia dolorosas
lembranças: foi o dia da minha primeira menstruação. Eu tinha 13 anos e sabia
que aquele momento era um marco na vida de toda mulher, e tinha lido nos livros
de ciências que, a partir daquele momento sentiria a necessidade biológica de
unir-me a outro ser, ou seja, ter relações sexuais. Essa idéia para mim trazia
muito desagrado. A infância era meu refúgio, tinha medo de crescer, não queria
ter que me apaixonar por ninguém, e sofrer como as mulheres que conhecia.
Eram
tantas as histórias tristes das senhoras casadas amigas de minha mãe, e, inclusive
da minha própria mãe sobre os homens que maltratavam seus corações, mas, ao
mesmo tempo, parte importante de suas vidas. Eu sempre via as relações amorosas
com olhos desconfiados, e confesso que até hoje essa desconfiança perdura.
Atualmente, os relacionamentos são tão frágeis, as pessoas se separam com tanta
facilidade, que chego a evitar envolver-me demais com as pessoas.
Eu acho que
me apeguei a minha vida de solteira, é bom sentir a liberdade de poder sair com
seus amigos sem peso na consciência de deixar um coração apertado de ciúmes em
alguma parte do mundo, ou se esse existir você não tem compromisso nenhum com a
dor voluntária desse alguém. O solteiro não deve satisfação sobre o que fez
durante todo o dia a outra pessoa, ao não ser que seja sustentado pelos pais,
mas isso é outra estória; pode pensar em todos os homens ou mulheres solteiros
e interessantes do mundo, e admirá-los e paquerar à vontade, sem peso na consciência.
Uma das únicas coisas chatas da vida de solteira é que, a maioria das pessoas, pensa que
você é um infeliz, porque não tem um namorado, marido, ou coisa parecida, e
tenta empurrar para você pessoas que você não tem atração, nem vontade de
relacionar-se amorosamente falando, e quem disse que todo solteiro está em
busca de alguém?
Houve um tempo que pensei em ser freira, sério! Não é
brincadeira. Viver uma vida de clausura para poder dedicar-me a oração a Deus e
aos irmãos atraiu-me bastante durante grande parte da minha juventude, cheguei
a frequentar Carmelos para conhecer mais sobre a vida das religiosas
consagradas. Ao contrário do que muitos pensam, a maioria delas vive muito
feliz atrás das grades que a separam das vivências sociais mundanas. É curioso
observá-las sorrir e contar piadas, e imaginar que poucas são as vezes que elas
têm acesso a vida fora das paredes do convento.
Ao conversar com uma delas na
minha visita ao Carmelo da cidade de Teresina, capital do estado brasileiro do
Piauí, senti em cada palavra da freira, aliás, muito jovem e bonita, a alegria
que ela sentia em poder viver em constante estado de meditação e oração a Deus
e também para salvação das almas dos irmãos do mundo inteiro. A paz que senti
ao ouvir as freiras falando ou cantando com suas vozes angelicais sobre as
coisas divinas invadiu meu ser, e, por alguns momentos, parece que o chão tinha
saído de meus pés, e eu flutuava, pisando em nuvens. Uma sensação que guardo
até hoje, e que me levou durante muito tempo dos meus vinte anos a pensar a
unir-me aquelas almas tão dóceis a clausura.
Hoje mesmo recebi uma notícia
maravilhosa, uma das minhas amigas que assim como eu foi visitar o Carmelo em
busca de descobrir sua vocação, finalmente, encontrou-a. Vocação significar discernir
sobre o que você nasceu para ser o resto de seus dias na Terra. A minha amiga
foi, há mais ou menos uns dois anos atrás, para um Carmelo no estado do Rio Grande do Norte,
e vai receber, neste domingo, os chamados “votos”. Essa é uma cerimônia
religiosa da igreja católica, em que a aspirante a carmelita compromete-se a tornar-se “esposa”
de Cristo, ou seja, faz seus votos de pobreza, obediência e castidade a Deus e
a igreja católica apostólica romana. Eu imagino que deve ser uma cerimônia belíssima
e emocionante. Meu coração alegrou-se bastante com esta notícia. Em relação, ao
meu desejo de ser carmelita essa notícia trouxe-me a seguinte reflexão: a vida
está em constante mudança!
O tempo é um escultor de personalidades. Em relação
ao meu desejo de ser uma carmelita, ele diminuiu. Sem perceber as minúcias de
como e quando aconteceram às mudanças que aconteceram dentro de mim, senti
crescer uma atração irresistível rumo ao que por tanto tempo repudiei: relacionamentos
amorosos. Estou descobrindo minha vida afetiva aos 25 anos, prestes a chegar
aos 26 anos, amizades, a relação com familiares, comigo mesma, com os homens
mudaram...
Sinto que estou tocando em um novo terreno novo e desconhecido, que
tentei não pisar por um longo tempo, e até fugia de tocá-lo. Trato as questões
amorosas com muito respeito, e com a sensatez que o assunto merece ser lidado.
É verdade que ainda sofro pela tentativa, na maioria das vezes, frustrada de não
apegar-me às pessoas.
Porém, aos poucos, meu relacionamento com Deus está
ajudando-me a vencer meus medos, de decepcionar-me, ser rejeitada, e outros
fantasmas da mente humana. Aprendi a ser feliz sozinha, não tenho medo da solidão,
estou feliz solteira, mas também sei que haverá um dia em que mudarei de
status, não por imposição da sociedade, ou pressão dos amigos, mas porque irei
encontrar a pessoa que Deus reservou para compartilhar comigo o resto da minha
vida.
Lembrem-se de que o tempo
passa rápido demais para ser desperdiçado com coisas sem importância, amem,
dancem, cantem, aproveitem a companhia dos amigos, amores, aproveitem cada fase
de sua vida para cultivar o bem.
E Feliz Dia do Solteiro!
(Millena Cardoso de Brito)
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