Parece tão simples amar, mas nem sempre é fácil na realidade. O verdadeiro amor é aquele que resiste as dificuldades do dia a dia, supera mesmo as situações mais dolorosas. Amor é um exercício diário, que conquistamos no silêncio de nossas pequenas batalhas interiores. É fácil amar as pessoas mais próximas a nós, que nos mimam e compartilham nossas lutas, e nos ajudam a crescer como ser humano. Mas, e aqueles que não conhecemos de perto, nem fazem parte de nossa rotina, ou os que fazem coisas ruins contra nós, ou são marginalizados, ou até mesmo marginais, é preciso amá-los? Eu acredito que sim, devemos amar todas as pessoas não importa o que sejam, pensem, ou digam que sejam ou façam. Devemos amar a todos sem distinção. E isso confesso para nós humanos não é fácil. Mas, se Deus nos ama mesmo com nossas inúmeras fraquezas, por que não imitá-lo nesse modo de amar tão bonito e incondicional? Só sei que eu escolho o amor, apesar desse ser o caminho mais difícil, mas quem disse que prefiro coisas fáceis.
Os poemas nos fazem refletir sobre o amor, eu escolhi alguns dos meus preferidos para acalentar as almas de meus leitores:
Fome de amor
Fome de amor é quase
maior que o amor
fome de amor nunca termina
inventando novos passos
fome de amor é feito casa
para sempre em construção
desde o mais distante passado
até o mais remoto futuro.
(Roseana Murray)
Canção do amor imprevisto
Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau
E a minha poesia é um vício triste
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar
Mas tu aparecestes com a tua
boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel,
sem compreender nada,
numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria
de um espantalho inútil
aonde viessem
pousar os passarinhos!
(Mário Quintana)
Interrogação
Não sei se isto é amor
Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo.
E apesar disso, crê! Nunca pensei em um lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo.
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem como
este sol de Inverno...
Passo contigo a tarde e sempre sem receio.
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio.
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor.
Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei o que é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
(Camilo Pessanha)
Soneto
Amar-te não por gozo da vaidade
Não movido de orgulho ou de ambição
Não à procura de felicidade
Não por divertimento à solidão.
Amar-te não por tua mocidade
-Risos, cores, luzes de verão
E menos por fugir a ociosidade
Como exercício para o coração.
Amar-te por amar-te: sem agora,
Sem ontem, sem futuro, sem mesquinha
Esperança de amor sem causa ou rumo
Trazer-te incorporada vida fora,
Carne de minha carne, filha minha
Viver do fogo em que me ardo e me consome.
(Aurélio Buarque de Holanda)
Nenhum comentário:
Postar um comentário