Quando eu era pequena não
conseguia entender o porquê dos adultos terem tanto medo de dizerem o que
pensam e sentem. Eu costumava dizer tudo sem pensar direito nas consequências (Bom!
Eu devo confessar que continuo fazendo isso com certa frequência, o que me traz
alguns problemas...). Eu deixava minha mãe bem constrangida com minhas perguntas
desconcertantes e com a audácia de falar sobre coisas que eram consideradas
apenas assunto de adultos. Eu sempre gostei de conversar com pessoas mais
velhas do que eu, costumava deixar de brincar para escutar as conversas da minha
mãe com as senhoras casadas da vizinhança, eu ficava escutando as reclamações
delas em relação aos problemas domésticos e me metia dando minhas opiniões,
sem contar que falava o que não deveria sobre as coisas que eu via acontecer em
minha casa e depois levava bronca da mãe. Meu pai era alcoólatra e, graças a Deus,
ele deixou o vício. Uma vez, minha mãe estava conversando com uma vizinha e eu
falei que gostava de acompanhar meu pai nos bares, pois quando ele ficava
bêbado, eu e meu irmão podíamos pedir muitas guloseimas sem que ele
reclamasse e nós recebíamos o que pedíamos com um grande sorriso dele, pois um dos sintomas de embriaguez é que a pessoa fica subitamente com a impressão de que está rica, então como minha família era pobre, nós aproveitávamos nosso pai bêbado para pedir o que queríamos ( Hoje eu não faria isso, claro!). A minha mãe, é lógico, ficava com muita vergonha, e eu sem entender
o motivo. Eu cresci e comecei a sentir o peso das palavras ditas sem pensar. Eu
descobri se eu falasse dos defeitos das pessoas que eu amo, outros poderiam
falar coisas ruins a respeito deles com base nas informações que eu mesma tinha
dado e eu sempre fui de defender até os limites de minhas possibilidades as
pessoas que são importantes para mim. Eu descobri a responsabilidade da palavra
dita, falada e/ou escrita, dada ou retirada. Cada som ou expressão do nosso ser
tem consequências na nossa vida, por isso, tudo o que dizemos deve ser bem medido e calculado para
evitar que prejudiquemos a nós mesmos e/ou aos outros. Aprendi
a dar valor às palavras ditas ou omitidas, elas podem ser decisivas para o nosso
futuro. Isso não significa que devemos ser adestrados a mentir
e nos esquivarmos de falar a verdade sobre o que pensamos e sentimos, mas é
preciso aprender a proteger a nós mesmo e a quem amamos. Eu sofro de transparência
excessiva, eu digo e falo o que penso e sinto, sem medir muito as palavras, mas
eu espero conseguir adquirir a arte da moderação na forma me
expressar. Acho que tenho tempo para aprimorar a arte de falar quando necessário
e calar estrategicamente para não prejudicar ninguém. Eu sofro com meus erros,
pois gosto de fazer as coisas certas, apesar de ter um jeito rebelde e
ser bastante crítica. Ser franca em relação ao que se pensa e sente causa muito
desconforto em um mundo em que a maioria das pessoas corre atrás de ilusões e de
falsas realidades. Amo a verdade e vou buscá-la, mesmo que a estrada seja
mais difícil de trilhar.
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