Não me dê palavras,
Pois estou cheia delas.
Não suporto mais ter a razão,
Estou farta dos Senhores da “verdade”,
Dos falsos profetas que muito cobram
E nada fazem do que dizem saber.
A sensibilidade de muitos está embotada,
Como riso perdido por falta de ocasião.
Querem que vivamos na chatice
De sempre estarmos certos,
De negar os erros,
De tentar sustentar uma fachada de espumas
Que desmancham ao sol de qualquer olhar
Mais ardido de ideias perigosas.
Ser uma pessoa que pensa por si
Virou um perigo,
Algo que procuram combater
Com falsos controles remotos.
As pessoas vivem a ilusão
De que muito sabem
E pseudointelectuais multiplicam-se,
Fazendo os outros acreditarem
Na mentira que eles criaram para sobreviver
À própria ignorância.
O sábio virou um triste esquecido
Na gaveta de primeiros socorros
que só é lembrado quando a necessidade
Mostra suas garras ferozes,
Implacável na sua natureza sedenta por vida.
Mas, a verdade não tem cor, nem classe social,
Ela é uma pedra bruta que só pode ser
Alcançada com muito esforço.
Ela está bem guardada na fonte
Que emana toda a Criação.
Quem se aventura a procurá-la deve
Ter a coragem de abandonar os falsos ganhos
Poder, riqueza, fama, acessórios
Que iludem muitas pessoas que esquecem
Sua essência de seres destinados ao Eterno
E não ao que é fugaz.
O que eu quero não é possível abarcar
Com os meus dedos magros.
O que eu quero escorre entre os dedos mais
Do que a água das fontes.
O que eu quero está solto no ar,
Espreitando as nuvens de pensamento errantes.
É um lampejo que pretende romper minha consciência,
Como as luzes da aurora,
Para que eu possa chegar enfim chegar ao seio da Criação
E descansar tranquila nos braços consoladores
Da Verdade.
(Millena Cardoso de Brito)