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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Viver

Crédito: Imagem retirada da Internet


Não estou pronta para viver a minha idade cronológica,
Mas a vida talvez seja isso a gente viver no susto.
Não estar preparado para o fim nem para o início,
Nem conseguir acompanhar o curso do tempo.
Não há como conter o inesperado,
Nem fazer que tudo aconteça da maneira que desejamos.
Precisamos ter calma para atender as necessidades do momento.
A minha ânsia de infinito me fez preservar a infância no ser e nos gestos,
Guardar o encantamento das noites de luar,
Lançar-se ao novo com a confiança
De que haverá sempre amparo.
Para mim tudo é imenso e intenso
E há novidades no simples abrir e fechar de olhos.
Não consigo contar o tempo por anos,
Mas pelo que sinto do que vivi.
Há dias cheios de eternidade e outros vazios.
Sou levada pela transitoriedade da vida
Que me abraça com dedos firmes
E me prende às minhas escolhas.
Mas, o que procuro é a permanência,
Deixar o medo de perder a consciência
E viver a certeza de que existe o Eterno.
Gosto de saborear o passar do tempo
Mas preciso da certeza do por vir.
Não estou pronta para viver a minha idade cronológica,
Mas a vida talvez seja isso viver.


(Millena Cardoso de Brito)

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Paredes


Crédito: imagem retirada da Internet


Bendigo as paredes que escondem as minhas vergonhas, meus medos, fraquezas,
Ocultam a nudez do corpo e da alma.
Gosto de estar no meu espaço para deixar meu corpo ser sem amarras,
Esvaziar-se de olhos, ouvidos, toques questionadores.
Viver as autodescobertas solitárias de quem se depara com a própria humanidade.
Estar contida em um lugar que me ampare do medo
E represe meu prazer e dor.
Comunico-me entre as paredes com a eloquência de quem conquista
Alguém para a eternidade.
Expando a vida ao estar no meu quarto a sós com o Eterno.
As paredes envolvem preces, sussurros, gritos,
Acolhem impassivas as palavras não ditas.
Vivo céus e infernos que orbitam meus pensamentos
E rompem a lógica material.
Mesmo estando vulnerável sozinha em um espaço, sinto-me protegida do outro.
Não me agrada o silêncio perscrutador de outra mente que me desconcerte.
Gosto da solidão para me sentir e sentir como o outro me afeta.
Entre as paredes posso discernir o que me faz ser quem sou.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Resistência


Imagem retirada da Internet

Palavras e imagens ferem meus sentidos como um punhal,
Tudo passa bem rápido pelos meus olhos cansados da espera
Pelo presente que insiste em sair do meu alcance.
Flutuo entre realidades criadas para afastar a incerteza
Que enche minha mente de falsos enigmas.

Com olhos postos no céu resisto ao fim.
Não importam as palavras e as imagens
Que perseguem meus pensamentos e me causam medo,
Nem a dor que vez ou outra me paralisa.
Eu decidi acreditar no Eterno
E luto para que eu deixe este mundo entregue a vontade da Criação, 
pois como diz a Escritura Sagrada devemos dar maior valor ao fim do que ao início.

Pois o começo é cheio de possibilidades 
Enquanto o fim com sua essência de completude traz a definição para as vidas. 
Eu prefiro o definitivo e perpétuo fim de todas as dúvidas ao início com as suas incertezas.
E espero cheia de esperança que meu último suspiro seja de total entrega ao Criador.






quinta-feira, 16 de maio de 2019

Mãe

Crédito: Imagem retirada da Internet



Mãe, ser de renúncia, amor de Deus refletido na retina, sustento na dor, no medo, na incerteza, sempre de braços postos a segurar nosso corpo pendendo da cruz, fonte e caminho para a eternidade, que no ventre fecundo gera o futuro da humanidade. 

Olho para ti e peço que continue a ser mãe e nos meus braços seja para sempre o que tu és.

Peço tua presença constante que afugenta o mal e que não haja mais morte para fechar-te os olhos, quero não mais temer que qualquer golpe desavisado da vida te leve e teu corpo seja um templo indestrutível onde possa apenas existir amor, o amor que te move e te faz ser mãe, ser que é um projeto de céu na terra, elo entre Criador e criatura, local para onde correm os corpos cansados da frieza do mundo.   

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

A galinha

Crédito: Imagem retirada da Internet

A minha visão em relação ao tempo mudou no simples ato de ver um galinha sendo cortada. As mãos enrugadas da minha avó cortavam com agilidade a pele macia e ainda quente do animal morto há pouco tempo. Minha mãe e eu a observávamos. Poucos segundos antes, minha mãe era quem executava a tarefa, enquanto, eu e minha avó apenas a observávamos. Eu sempre admirei a autoconfiança com que minha mãe usava a faca na cozinha. Diante dos frangos congelados as suas mãos pareciam certeiras. Mas, naquele momento à beira da pia no vasto quintal da casa minha vó
, ela como filha perdeu a firmeza nas mãos. Eu não sei se por causa do cheiro quente das vísceras que pareciam mais assustadores do que as frias entranhas das galinhas que ela costumava cortar ou se por causa de estar sendo observada pela sua experiente mãe. O fato é que ela tomava o lugar de filha e não de minha mãe e isso me divertiu. Minha vó ao vê-la trêmula diante da galinha tomou-lhe das mãos a faca e passou ela mesma a executar a ação. "– Você está cortando errado, cuidado com o papo!" ,"– Pera mãe, eu sei!"Eu me via na minha mãe e me invadia um certo sentimento de desforra das broncas que já tinha levado por não fazer as tarefas domésticas do jeito que ela achava melhor em nossa casa. Eu conclui que a relação de mãe e filho ou filha estava contida naquela cena. Pareceu que diante de mim o tempo se retraía e se expandia no simples cortar de uma galinha. Obrigada por esse momento adorável animal. Eu espero que haja um céu onde nós possamos nos encontrar para eu te falar sobre esse dia.