Eu tenho muito medo.
Tenho deixado meu algozes estraçalharem minha carne.
Curioso é que não consigo ter raiva, nem fugir aos seus ataques. Eu amo os meus
algozes. Eu preciso afastá-los, mas não me movo. Estou paralizada pela dor que
criei. Estou presa na ficção que eu criei.
Eu estou farta de mentir para mim.
Não quero mais lamber a baba de Caim.
Eu amo meus algozes, mas quem está precisando de mim sou eu agora.
Eu preciso dançar em cima das chamas.
Giro em meus pensamentos
E nenhum deles me salva.
Vou esvaziar-me deles para me salvar.
Meu canto sobe aos céus,
O rodopiar dos sons
Afasta as chamas.
Clamo Meu Libertador
E seu sangue aplaca as minhas feridas abertas.
Nossos sangues se misturam
E eu sinto em meu flanco a dor se aplacar.
Meu corpo pende ao chão e intacto
Toca as cinzas frias.
Não há mais dor.
Eu sou todo abrigo.
Em silêncio suspiro a Eternidade.
(Millena Cardoso de Brito)