Olho para dentro de mim e não vejo nada.
Há um silêncio cheio de imagens de dor e medo
Que me tiram a vontade de ser e estar no mundo.
Eu ficaria presa nessas imagens
Se vez ou outra não ouvisse vozes acolhedoras
Que do lado de fora me puxam para a vida.
Mas, quando volto à vida eu sinto a sensação
De estranheza de estar no mundo.
Eu não consigo distinguir dentro de mim
O que existe de fato atrás das perturbadoras
Imagens que parecem esconder mais do que mostrar algo.
Vejo ventres abertos por abutres famintos,
Olhos sem brilho ofuscados pela loucura,
Vejo lágrimas silenciosas correndo de pessoas sem
rostos
E mãos vazias estendidas em prece,
Clamando mudas e cheias de um desespero
Que me fazem tremer.
Vejo homens devorando a carne de outros homens,
Crianças com rostos ferozes empunhando armas de guerra,
Vejo sangue escorrendo de ventres partidos
E o chão seco pedindo água que teima em não cair.
Quando fujo das imagens posso sentir cada fibra
Do meu corpo absorvendo dores
que eu nem sabia que existiam
que eu nem sabia que existiam
E sofro por não poder fazer nada
para destruir essas imagens que me perseguem.
para destruir essas imagens que me perseguem.
(Millena Cardoso de Brito)